Aprofundando no tema anterior a respeito da resistência aos antimicrobianos, iremos abordar de forma mais detalhada sobre o assunto, que é de extrema relevância mundial.
Segundo um relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) baseado em dados de 87 países em 2020, houve um aumento de patógenos resistentes aos antimicrobianos relacionados tanto a infecções comuns, tornando-as difíceis de tratar, quanto a infecções hospitalares graves, que aumentam o risco de morte desses pacientes.
Infecções bacterianas comuns:
Acima de 20% das linhagens de E.coli (principal bactéria causadora de infecções do trato urinário) apresentaram resistência aos medicamentos de primeira linha (ampicilina e co-trimoxazol) e de segunda linha (fluoroquinolonas).
Mais de 60% das linhagens de Neisseria gonorrhoeae (causadora de gonorreia - doença sexualmente transmissível) foram resistentes ao tratamento mais utilizado (ciprofloxacino).
Infecções bacterianas hospitalares graves e fatais (sepse):
Bactérias que podem frequentemente causar sepse (Klebsiella pneumoniae ou Acinetobacter spp) mostraram resistência superior a 50%.
8% das sepse causadas por Klebsiella pneumoniae apresentaram resistência aos carbapenêmicos, que são antibacterianos reservados para o tratamento de infecções graves.
Resistência aos antimicrobianos em infecções fúngicas, HIV, tuberculose, malária e doenças tropicais negligenciadas
Além das infecções bacterianas, também há grande preocupação com o aumento de infecções causadas por fungos multiresistentes, incluindo Candida auris.
A resistência ao pré-tratamento do HIV (início da terapia antirretroviral) apresenta o limite de 10%, o qual vem sendo atingido cada vez mais pelos países onde há alta incidência do vírus.
A tuberculose é a principal causa de morte de pessoas com HIV.
Quando há resistência aos dois principais medicamentos utilizados no tratamento (isoniazida e rifampicina), a tuberculose é denominada multirresistente. Os fármacos empregados como segunda opção de tratamento são caros e apresentam efeitos colaterais frequentes. Em caso de resistência, as opções de tratamento podem ficar restritas.
Apesar de cerca de 410 mil pessoas terem desenvolvido tuberculose multirresistente ou resistente à rifampicina em 2022, o acesso ao tratamento correspondeu a aproximadamente 2 em cada 5 pessoas.
O controle da malária também tem sido afetado pela resistência aos tratamentos dos parasitas causadores da doença.
A resistência ao tratamento de doenças tropicais negligenciadas (hanseníase, leishmaniose, tripanossomíase na África, entre outras) ameaça o controle e erradicação dessas doenças, que acometem principalmente populações vulneráveis e marginalizadas.
É importante ressaltar que a maior taxa de resistência aos antimicrobianos está relacionada ao menor acesso a testes de diagnóstico, vacinas e medicamentos; saneamento básico; informação; afetando, então, principalmente as populações que vivem em situações vulneráveis, nos países de baixa e média renda.
Além de comprometer o tratamento de infecções, a resistência aos antimicrobianos também afeta o tratamento de câncer com quimioterápicos e diversas cirurgias, como cesariana e transplante de órgãos.
Como é possível perceber, a resistência aos antimicrobianos é uma questão complexa e urgente, que envolve um esforço mundial de diversos setores para monitorar e prevenir o aumento do número de patógenos resistentes aos tratamentos disponíveis para diversas doenças. Isso inclui políticas públicas de prevenção e controle de doenças infecciosas, investimento em pesquisa (desenvolvimento de testes e vacinas), informação dos profissionais de saúde e da população sobre o uso racional de antimicrobianos, para garantir o acesso a um tratamento eficaz.
Rafaela Ribeiro
Referências
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/antimicrobial-resistance
https://www.paho.org/pt/noticias/9-12-2022-relatorio-sinaliza-aumento-da-resistencia-antibioticos-em-infeccoes-bacterianas
https://www.paho.org/pt/noticias/24-11-2021-oms-lanca-relatorio-2021-sobre-resistencia-medicamentos-para-hiv
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