Nossos antepassados
Como entender a transmissão Transgeracional inconsciente das histórias
familiares que se transmitem de geração em geração e, portanto de uma parte
inconsciente e coletiva da psique? Como pode as pessoas ter distúrbios,
dificuldades inexplicáveis e quando desenhamos seu genograma se descobre
sempre repetições de cenários, de datas, de incidentes e de segredos
aparentemente esquecidos, mas relacionados com seus sofrimentos?
Devemos sempre imputar ao acaso que se durante o trabalho de
psicogenealogia acontece eventos particulares, lapsos, intuições, fatos
estranhos, coincidências que nos ajudam a esclarecer a história familiar dos
quais nos ocupamos?
Como explicar que durante a prática das constelações
familiares as pessoas experimentam emoções e sensações que não tem
nenhuma relação com as suas situações atuais, mas que tem a ver com as
emoções e as sensações que viveram os seus antepassados e frequentemente
de outros familiares das pessoas cujas constelações se ocupam?
Um outro fato que me fascina sempre é que quando falamos das transmissões transgeracionais
de traumas com alguém que não conhece o assunto,
encontramos uma adesão imediata. Também os mais céticos, quando é dito
que a base da psicogenealogia é a hipótese que as dificuldades que vivemos
no presente têm origem na história de nossos antepassados, compartilham
sem dúvida dessa ideia.
Até mesmo consideram verdadeiras. Como pode, uma
coisa desconhecida como as transmissões entre gerações ter aceitação
imediata pelas pessoas também mais incrédulas ou sem nenhum
conhecimento do assunto? De onde vem esta certeza? Como se transmite
estes conteúdos? Por que durante a prática das constelações atos
inexplicáveis, mas com relação estreita com a história que se está colocando
em cena, acontecem? Como pode os segredos de família determinar as
nossas vidas? A hipótese da existência dentro de nós de uma parte
desconhecida que determina a nossa parte consciente foi proposta há muitos
séculos e a psicanálise de Freud. Que já tem mais de cem anos, focava no
tratamento dos distúrbios psíquicos.
Mas o inconsciente proposto por Freud, limitado só à repressão das experiências
pessoais, não é suficiente para explicar a experiência destes outros fenômenos
Freud mesmo se deu conta e refletiu sobre a existência de uma instância
coletiva transmitida de modo inconsciente (herança arcaica), mas preferiu
concentra-se totalmente sobre a concepção que fez da libido o único motor do
ser humano. Tinha razões “históricas” para fazer esta escolha: no século de
Freud à sexualidade era um tabu no ambiente médico e as doenças como a
histeria era tratada somente com a internação psiquiátrica.
Jung avançou mais na elaboração e uma teoria sobre o funcionamento da
psique e postulou a existência de um inconsciente coletivo além do individual.
De Jung a Freud, de Françoise Dolto a Bert Hellinger, passando por Dumas,
Abraham, Torok, Moreno, Sheldrake, Boszormenyi- Nagy e muitos outros
todos, concordam sobre a existência de uma transmissão psíquica
multigeracional que explica a gênese de distúrbios e dificuldades na vida
presente das pessoas.
Estes terapeutas têm verificado nas suas práticas com milhares de pacientes
que as “doenças” das quais estes sofrem têm uma relação com os traumas
psíquicos vividos por seus antepassados.
Françoise Dolto, por exemplo, falou de débitos inconscientes dos pais dos
pacientes, assim como os efeitos patológicos do passado dos pais e dos avós,
que são expressos nos sofrimentos dos filhos. O seu anunciado: “precisamos
de três gerações para fazer um psicótico” é a pedra fundamental seja do
modelo familiar sistêmico ou da psicogenealogia.
Didier Dumas, seu aluno e discípulo, desenvolve este discurso dizendo que o
“não dito” dos antepassados torna-se um “impensável genealógico” para os
descendentes. Aquilo que foi um “não dito” para um bisavô pode tornar-se para
um bisneto um distúrbio cujas razões são incompreensíveis porque não são
desconhecidas como não são nem menos pensadas.
Abraham e Torok foram os primeiros a analisar o problema das patologias
geradas pelos traumas e não ditos dos antepassados. Os dois psicanalistas
postularam a existência de uma “cripta” na psique, parte separada do eu (ego
divisão), causada pela lacuna criada pelas ocultações dos eventos traumáticos
vividos por um ascendente. Esta cripta é habitada por um fantasma, um trauma
fantasma, que se transmite de geração em geração.
Contemporaneamente os estudos de Boszormenyi-Nagy sobre ética familiar,
mostram que os débitos e os méritos dos antepassados se transmitem de
geração em geração.
Temos um livro de contas familiar que carregamos dentro
de nós e onde está escrito quem é credor e quem é devedor.
(trecho do Capitulo final Do livro – Jung, Psicogenealogia e Constellazioni Familiari – Inconscio Colletivo e sincronicità – Autora
Dot. essa Maura Saita Ravizza- Tradução: Dra. Jaqueline Cássia de Oliveira)
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